“Desejo no Ônibus Lotado: Entre Corpos e Segredos“

Era fim de tarde, e o ônibus estava, como sempre, abarrotado de pessoas voltando do trabalho. Eu me espremei entre os corpos, procurando um lugar para me segurar enquanto o veículo arrancava. Sentia o calor das pessoas ao redor, seus movimentos involuntários, a vibração do motor embaixo dos meus pés. Quando o ônibus fez uma curva brusca, um rapaz alto, com ombros largos e ar cansado, foi jogado contra mim. Seu corpo forte encostou-se ao meu, pressionando-me contra a barra de apoio. O aperto do espaço nos unia de uma forma inesperada, e eu senti uma faísca diferente correr pelo meu corpo. Eu esperava que ele se afastasse assim que o ônibus estabilizasse, mas ele permaneceu ali, seu quadril roçando de leve no meu. A cada freada ou acelerada, a pressão aumentava e diminuía, como uma dança involuntária, lenta e provocante. A sensação de sua presença tão próxima, o calor que ele emanava, e o roçar suave e constante me fizeram morder os lábios, tentando disfarçar o arrepio que subia pela minha espinha. Ele também parecia consciente do contato. Seus movimentos tornaram-se mais sutis, como se testasse os limites, vendo até onde poderia ir sem que eu me afastasse. Eu não me mexi. Na verdade, a ideia de ser tocada naquele espaço apertado, entre desconhecidos, me excitava de uma maneira que eu não esperava. Meu corpo respondia, como se aquela proximidade fosse o suficiente para acender algo primitivo dentro de mim. O ônibus parou em um ponto mais à frente, mas, mesmo com o espaço que se abriu, ele continuou ali, pressionando-me com mais intensidade. Nossos olhos não se encontraram, mas nossos corpos falavam uma língua própria, num silêncio cúmplice. O desejo crescia a cada segundo, e o mundo ao redor parecia desaparecer. Eu sabia que o momento duraria apenas até meu ponto chegar, mas, naquele breve instante, senti uma eletricidade correr pelo meu corpo, algo que eu levaria comigo muito além daquela viagem.